Artigo de opinião publicado no portal Saiba Mais
Por Tiago Lincka
Ainda é uma situação muito preocupante que, de acordo com dados do IBGE, o Brasil ainda tenha em pleno 2020, quase 16 milhões de pessoas acima de 15 anos completamente analfabetas. Dentro desse número, cerca de 9 milhões de pessoas analfabetas tem mais de 60 anos. Agora vamos imaginar como é ter vivido a sua vida inteira sem nunca ter conseguido ler uma frase sequer. Sem nunca ter podido ler uma cartinha de seus filhos no Dia dos Pais ou das Mães. Sem conseguir entender uma placa de letreiro nas ruas. Sem poder mandar um bilhete para a pessoa amada. Eu só consigo imaginar a angústia de uma pessoa que vive cercada por letras e palavras por todos os lados e não conseguir ler e compreender nenhuma dessas informações. Isso sem falar do analfabetismo funcional, que segundo dados de 2018 do IBGE, chegam à aproximadamente 38 milhões de pessoas no Brasil. Ou seja, são dados alarmantes frutos de políticas púbicas mal sucedidas, de décadas… Certa vez eu ouvi dizer informalmente que nosso país estava cerca de 30 anos em defasagem educacional. Creio que com os ataques ao ensino médio, à escolarização, e às bases curriculares nacional além da pandemia, essa defasagem deve ter crescido.
Nesse sentido, o dinheiro que um governo aplique na educação de seu povo não é gasto, mas sim investimento. Algo que dará frutos duradouros e à longo prazo. Precisamos investir e sermos cautelosos. Tanto que educação é investimento, que um pai ou mãe, investe tudo que pode na educação de seus filhos, seja com boas escolas, com cursos de idiomas, com aulas particulares. Pois sabem que isso é fundamental para um bom futuro de seu herdeiro. Agora por quê essa mesma pessoa quando é um governante, legislador, não aplica essa mesma regra para o sistema público de ensino?
Diante de tudo isso, gostaria aqui de falar da importância das Universidades Públicas Federais e dos Institutos Federais de Ensino, as chamadas UF’s e IF’s. Cujas instituições estão em constante mobilização por melhores condições de trabalho, de salário e de orçamento. Falo em especial das Universidades Federais, cujos servidores e servidoras públicas estão, em greve desde o último dia 14. São os técnico administrativos das Universidades que carregam o piano, dia após dia, com muita dedicação para prestar uma boa qualidade dos serviços. Fazem junto com os professores e os terceirizados, as universidades públicas serem cada vez mais reconhecidas e formarem cidadãos qualificados.
Dentre as pautas de reivindicação da categoria está a melhora no orçamento das UF’s, que desde 2018 veem caindo ano após anos. É uma lógica totalmente insustentável, uma vez que se abrem novas vagas para estudantes, se tem a queda no orçamento de custeio. Na minha opinião, não basta ao governo federal anunciar 100 novos IF’s, se não valoriza os servidores que ali estão, dando seu sangue pela instituição.
Os técnico administrativos das UF’s e IF’s estão com seus salários defasados desde 2010, data do último reajuste real acima da inflação, concedido à época pelo Governo Lula. De lá até os dias atuais, as perdas salariais giram em torno de 68,73%, já considerando os reajustes que tivemos em 2013, 2015 e o reajuste emergencial de 9% concedido o ano passado. Ou seja, nós servidores federais das universidades estamos com quase 70% do salário defasado. Em um período em que o preço da gasolina subiu cerca de 240%, o preço da cesta básica subiu cerca de 300%, já o gás de cozinha e o salário mínimo subiram cerca de 270%. Aí deixo a pergunta no ar… Como podemos conviver com essa situação?
Se a situação é grave, a solução é greve!
Desde o ano passado que as entidades representativas da categoria estão tentando buscar uma solução junto ao Governo Federal, com mesas de reuniões tanto gerais, como específicas. Mas de nada tem adiantado, infelizmente. A proposta que recebemos do Governo nessas mesas foi a ousadia de nos apresentar o total de 0% de reajuste para 2024. Isso mesmo, zero, nenhum. Dessa forma, sem nenhuma negociação aparente, o que temos são as chamadas mesas de enrolação. Em que o governo marca reunião para marcar outra reunião. E aí vai enrolando a categoria e ganhando tempo.
Investir em educação é investir também nos que fazem a educação brasileira dar certo. É investir nos servidores e servidoras. É ampliar o orçamento das universidades.
De nada adianta o presidente Lula fazer um discurso bonito da construção de 100 novos IF’s e chamar a nossa greve de grevezinha. Ainda mais ele sendo uma personalidade que se forjou em cima da luta de trabalhadores e trabalhadoras em grandes greves dos metalúrgicos. É no mínimo insensível nos tratar dessa maneira. E o pior é querer receber méritos por nos deixar fazer greve, um direito constitucional, se comparando com o péssimo governo anterior, se comparando por baixo, rasteiro. Nossa greve está forte e crescente, tanto na UFRN, como nas mais de 55 Universidades espalhadas por todo o Brasil. E que está se juntando aos servidores e servidoras dos Institutos Federais nos próximos dias, e demais categorias dos servidores públicos federais.
Somos mais de 200 mil em todo o Brasil, merecemos ser valorizados e acima de tudo, respeitados. Não estamos fazendo uma grevezinha não. Estamos lutando pelos nossos direitos e pelo futuro da nossa nação, por uma educação pública, gratuita e de qualidade.