Hoje, 3 de dezembro de 2012, é um dia de triste memória para os trabalhadores das instituições federais de ensino (TAE´s). As lideranças nacionais da Associação dos Técnicos de Nível Superior (ATENS) protagonizaram um momento vergonhoso de anti-democracia na realização da assembleia de criação do sindicato nacional da classe.

Em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, no local onde foi realizado o evento, havia inúmeros seguranças armados com CASSETETES, cordas de segurança e – pasmem – APARATO POLICIAL, constituído de viaturas e guardas armados. Só entravam no local trabalhadores do nível de classificação E, que passavam por três momentos de identificação. As lideranças da FASUBRA que não integravam a Classe E foram PROIBIDAS de adentrarem ao recinto. Os demais companheiros de diversas bases de todo o país que lá se encontravam também foram impedidos de entrar para acompanhar os “trabalhos”. Ao início da assembleia foi feita a leitura da ata e, em seguida, foi colocada em votação a proposta de criação da entidade. Votaram os favoráveis, os contrários (nós, TAES da Classe E que discordávamos da divisão da categoria) e por último as abstenções. A proposição de criação da ATENS Sindicato Nacional foi aprovada por ampla maioria. Não houve falas e esclarecimentos, não houve espaço para manifestação da diferença, do pensamento contrário. Houve exclusão pura e simplesmente! Não se sustentou um debate nem mesmo enquanto um exercício de retórica. Houve simplesmente um rito sumário!

A QUEM SERVE UM MOVIMENTO QUE USA A POLÍCIA CONTRA SEUS PRÓPRIOS PARES? POLÍCIA PARA QUEM PRECISA DE POLÍCIA!

Como o “evento” foi bancado? Suspeita-se que pode ter sido por algumas administrações centrais, em especial o reitorado e assessores da Universidade Federal de Santa Maria, que utilizaram a máquina pública para tal. Ainda, que podem ter sido utilizados recursos públicos para financiar um EVENTO PRIVADO de criação de uma entidade que visa tão somente se contrapor à luta da FASUBRA e seus sindicatos de base, organizações sindicais livres que ao longo dos anos tem sido um “calo” para os dirigentes universitários autoritários. Portanto, também as reitorias que bancaram servidores TAE´s da Classe E para participarem da assembléia tiveram uma clara ingerência na organização da classe trabalhadora. E fica claro também que uma entidade que nasce atrelada às administrações centrais não tem como objetivo beneficiar trabalhadores, e sim somente garantir privilégios para uma pequena parcela de apaniguados, perpetuando uma relação de poder da política do “é dando que se recebe”. Além de divisionista, a ATENS é governista, tendenciosa e faz a política de gabinete, de triste memória, a excrescência do movimento sindical, o qual tanto lutamos para banir!

EM QUE MOMENTO PERDEMOS NOSSO SENTIDO DE CATEGORIA?

Para mim em especial foi triste perceber que, neste caminho, perdemos o nosso sentido de pertencimento, de categoria, de união! Víamos trabalhadores de nossas instituições votando pela divisão da nossa categoria, pouco se importando se essa fragmentação nos enfraquece! O único pensamento é do “nós somos ´nível superior´ e merecemos tratamento diferenciado”! Lembrou-me muito meu velho pai nordestino que, com sua sabedoria de homem do sertão, dizia-me: “Minha filha, o homem é o lobo do homem! Pirão pouco, o meu primeiro…”. Rifa-se e se desconhece as demais classes, rifam-se os aposentados, aos quais se dirigirá a metralhadora giratória da ATENS e sua “política” de segregação.

Em que momento concluímos que o nosso fazer enquanto integrantes da Classe E nas instituições federais de ensino é melhor ou mais importante do que os dos demais trabalhadores, adotando a lógica docente que tanto repudiamos? Quando foi que passamos a desconhecer que o trabalho nas IFES é uma construção em cadeia? Que um depende do outro para realizar todas as tarefas, das mais simples às mais complexas? Em que momento esquecemos as lições da história, de que trabalhador unido é muito mais difícil de ser vencido? Em que momento passamos a desconhecer as lições de Maquiavel, em “O Príncipe”, que nos ensinou o “dividir pra governar” como sendo a política dos reis?

Mas, nossa redenção pode vir em forma de união daqueles que acreditam que a luta de classes existe ainda, e que não é possível coadunar com os pressupostos de uma entidade que não preconiza a solidariedade entre os trabalhadores! E é por isto que peço o auxílio de Carlos Drummond de Andrade que, com sua sabedoria, pode nos redimir: “Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas…”

Por Neide Dantas, técnica-administrativa da UFMG

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