Realizada na terça-feira (02), no plenário da Câmara Municipal de Natal, a audiência pública que debateu sobre turnos contínuos na UFRN e Ufersa foi uma proposição do vereador Sandro Pimentel (PSOL), que é técnico-administrativo da UFRN. O SINTEST/RN esteve representado na mesa de discussão por sua coordenadora geral, Vânia Machado.

Participaram também do debate, pela comissão das 30h, o servidor técnico-administrativo, Ricardo Lago, e pela UFRN, o diretor adjunto do DAP, Zaqueu Gurgel. A reitoria da Ufersa também foi convidada, mas não enviou nenhum representante, bem como não justificou ausência.

Vânia Machado, coordenadora da entidade enfatizou em sua intervenção o aspecto histórico relacionado à carga horária de trabalho e qualidade de vida dos trabalhadores.

Importância das 30 horas

Os benefícios para a melhoria do serviço público em geral, bem como para o atendimento à sociedade é o mais latente com a adoção dos turnos contínuos, viabilizando as 30h. São 12 horas ininterruptas de atendimento, onde fica comprovada a maior efetividade dos serviços prestados. Mas queremos nos focar no benefício ao trabalhador.

Segundo o Ministério do Trabalho  “Jornada de Trabalho normal será o espaço de tempo durante o qual o empregado deverá prestar serviço ou permanecer à disposição do empregador, com habitualidade, executadas as horas extraordinárias. Nos termos da CF, art. 7º, XIII, sua duração deverá ser de até 8 horas diárias, e 44 horas semanais.”

A perda dos direitos trabalhistas tem sido uma constante nos últimos tempos, bem como a tentativa do aumento destas perdas. Podemos citar a “Reforma Trabalhista” que os governantes vem tentando implementar, sem sucesso, até o momento. Junto a isso, vemos um crescimento avançado do trabalho informal, chegando ao patamar de 50%,  e uma queda na força da união dos trabalhadores, impedindo que eles consigam se organizar para defesa de seus direitos.

A luta pela Jornada de 30 horas leva os trabalhadores, através dos seus sindicatos ao retorno da postura ofensiva. É uma reforma do trabalho progressista e tem  vários objetivos e razões de ser. Como exemplo citamos um dos  pontos principais: a diminuição do desemprego obrigando as empresas e instituições a contratar mais.

A diminuição da Jornada de trabalho, desde o século XIX, sempre foi um dos enfrentamentos mais difíceis que os trabalhadores tiveram com os patrões, de todo o tipo. De um lado, os patrões querem explorar ao máximo a mão de obra humana viva, tirando sempre lucros enormes com isso. De outro, os trabalhadores explorados,  que sempre lutaram para que essa exploração fosse menor, com objetivo de possuir uma parcela maior de suas vidas, tragada pelos patrões em virtude das exaustivas jornadas de trabalho.

A diminuição da jornada de trabalho não atinge somente os trabalhadores empregados, mas tem ligação direta com o crescente número de desempregados. Nos setores de serviços, por exemplo, a diminuição da jornada de trabalho, deve estar atrelada a uma bandeira de  “não diminuição do horário de atendimento ao público” , o que vai ocasionar a necessidade de uma contratação maior de funcionários. Esta deve ser uma bandeira forte, imediata, estratégica e necessária para diminuir, efetivamente, o empobrecimento e o desemprego.

A busca por uma Jornada de 30 horas é uma luta humanista pelo direito do ser humano de libertar do processo alienante de produção dentro da sociedade capitalista. Devemos lembrar que essa luta é defendida sem que ocorra diminuição de remuneração, o que leva a outras razões pela defesa das 30 horas: aumento relativo do valor da remuneração da força de trabalho.

História – Passado

Historicamente, as jornadas de trabalho já foram de 16 à 18 horas. Com o tempo, foram sendo reduzidas para 14, 12, 10, até chegarmos a atualidade de 8 horas de trabalho. Foi a força motriz à vapor, e depois o carvão, que marcou o fim do período  das manufaturas e do sistema gremial possibilitando assim, o surgimento da grande indústria produzida em série.  Com o advento das máquinas tudo foi sendo modificado na vida do trabalhador. Criou-se a possibilidade de vários operários ao mesmo tempo produzirem numa velocidade bem maior que a do operário sozinho. A indústria artesanal foi sendo substituída por grandes fábricas surgindo pela primeira vez a divisão do trabalho industrial.

A facilidade das tarefas a movimentos mecânicos repetitivos leva os industriais a empregarem mulheres e crianças. Para não morrer de fome, em condições extremamente miseráveis, os trabalhadores trabalhavam quase sem pausa. A jornada de trabalho fixa não existia. Muitos dormiam na própria fabrica e não era estranho jornadas de 16, 18 horas para ganhar o suficiente para sobreviver.

História – Hoje

Até hoje percebemos que a sociedade moderna não se libertou dessa paranoia de produção. Na verdade, ela nem se quer se deu conta dessa realidade. Os conceitos de ética, moral, bem e mal estão relacionados ao homem encaixar-se ou não  como um “parafuso na máquina produtiva”.  Aqueles que não se enquadram nesse padrão são perseguidos e marginalizados por não darem sua parte na produção de valor. Essa  “filosofia” nos faz lembrar que acabou o famoso “fetiche” pela profissão e pelo trabalho. Acabou a mágica e o prazer pelos mesmos. Segundo Marx, “a burguesia despiu de todas as atividades até aqui veneráveis e estimadas com piedosa reverência da sua aparência sagrada. Transformou o médico, o jurista, o padre, o poeta, o homem da ciência, em trabalhadores assalariados pagos por ela.”

Essa visão, onde a Jornada de Trabalho é vista apenas como meio de se ganhar mais e mais, famílias se desestruturam, pessoas adoecem e os consultórios estão cheios de crianças e adultos com problemas. Ainda, segundo Marx, “a burguesia arrancou à relação familiar o seu comovente véu sentimental e reduziu-a a uma mera relação de dinheiro.” Perde –se o conceito de felicidade. A felicidade dentro deste padrão de pensamento, só pode ser conseguida numa competição brutal, onde há o sorriso dos “vitoriosos” e a desumana alienação das vitimas de um processo de miséria imensa. Este valor sentimental, a “felicidade”, se baseia na escravidão assalariada, miséria, dor e na vida subumana da esmagadora maioria.

Beneficio

É nesse contexto que surge a luta pela Jornada de Trabalho de 30 horas! Na produção, no trabalho maquinal e sem prazer, o trabalhador não se realiza como pessoa. Ao contrário do servo ou do mestre da idade média, ele não controla  seus meios de trabalho, e sim é controlado por eles.

Razões para que esta luta seja primordial e estratégica no movimento sindical:

– Lançar os trabalhadores na luta ofensiva, questionando a ordem capitalista alienante;

– Diminuir um pouco o desemprego nesta crise aguda e crônica em que vivemos;

– Melhorar um pouco mais as condições de vida dos trabalhadores, liberando mais tempo livre;

–  Aumentar o salário real efetivo do trabalhador desde que ele tenha o mesmo salário por uma jornada menor;

Mas a maior de todas e fundamental é o questionamento da alienação do homem no processo de trabalho. Ou seja, um homem submisso horas e horas, numa labuta que lhe é alheia e que  o vai esgotando, ano após ano, apenas para que ele tenha condição de ser remunerado para se reproduzir, comprar e produzir mais valor. E ter tudo isso como a “razão de existir de uma humanidade”.

Contra a alienação, o embrutecimento, a perda do sentido da existência humana, defendamos 6 horas de trabalho diário, 30 horas de trabalho semanal para toda a sociedade. Apenas o primeiro passo para um futuro no qual, com certeza, as pessoas não gastarão mais que duas ou três horas nas funções de manutenção da sociedade e terão todos os dias de toda a sua vida a seu dispor.

“A libertação dos trabalhadores só pode ser fruto da luta dos próprios trabalhadores.”  Karl Max

 

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