A secretaria de Estado da Saúde Pública (Sesap) vai perder, até o fim deste ano, 316 médicos. Esta quantidade é suficiente para atender a demanda dos hospitais Tarcísio Maia, em Mossoró, e Santa Catarina, na zona Norte de Natal. O montante também é quase o necessário para operacionalizar o maior hospital de urgência e emergência do Estado, o Walfredo Gurgel – que necessita de 352 médicos –, e corresponde a mais de 17% do efetivo atual na Sesap. O déficit na secretaria é de 578 profissionais.

A perda é sinalizada pela Coordenação de Recursos Humanos (CRH) do órgão. Até dezembro, pelo menos 45 profissionais serão exonerados e outros 97 vão atingir o tempo de serviço e poderão pedir aposentadoria. Atualmente, 1.800 médicos compõem o quadro de pessoal na Sesap. Entre janeiro de 2011 e março passado, 174 profissionais foram exonerados a pedido ou através de ofício, ou seja, foram demitidos. A debandada da classe médica atinge principalmente áreas sensíveis como a ortopedia e anestesiologia.

Além de dificultar o atendimento à população, a fuga de profissionais eleva os gastos públicos. O valor dos contratos com cooperativas aumentou 92% no intervalo de quatro anos.

A Sesap já chegou a contar com 2.100 médicos no seu quadro. No entanto, nos últimos três anos, a secretaria assistiu a maior fuga desses profissionais que se intensificou na atual administração comandada pelo médico Luiz Roberto Fonseca. Desde que assumiu a pasta – há pouco mais de um ano –, o secretário implantou medidas  consideradas “antipáticas” por boa parte da classe médica. “Podem ser antipáticas, mas são necessárias para arrumar a casa”, disse o titular da CRH, Carlos Roberto Pinto Lopes.

Entre as regras estabelecidas pela atual gestão, estão a suspensão da chamada “folha de plantões indenizatórios” e a implantação do ponto eletrônico. Com a primeira medida, de acordo com Carlos Roberto, a Sesap conseguiu enxugar a folha de pagamento. “Para se ter ideia, em 2009, esses plantões indenizatórios chegaram a gerar uma despesa de R$ 1,5 milhão aos cofres públicos. Fizemos uma auditoria, cancelamos os plantões eventuais e esse pagamento extra não existe mais”, contou.

Já o controle de frequência através do ponto eletrônico obrigou os profissionais médicos a cumprirem a carga horária contratada junto à Sesap. À época do debate, representantes dos profissionais chegaram a exigir uma complementação salarial para aceitar a implantação do controle mais rígido. O reajuste não foi concedido e quem não estava satisfeito com a situação, pediu para sair.

Por outro lado, os médicos alegam que a fuga do serviço público não ocorre apenas por questões relacionadas à melhoria salarial e flexibilização da carga horária. O abandono acontece, segundo eles, devido às péssimas condições de trabalho oferecidas pela Sesap. Foi por esse motivo que, no dia 17 de abril, o cirurgião vascular Gutemberg Gurgel entregou o pedido de exoneração. Em uma carta enviada aos colegas, o médico afirma que, após 23 anos “dedicados a causa da cirurgia vascular no Rio Grande do Norte”, chegou a hora de parar.

“No momento, não temos mais apoio de nada dos gestores. Cobranças descabidas e falta de tudo”, escreveu. Em entrevista à reportagem da TRIBUNA DO NORTE, Gutemberg afirmou ainda que a Sesap vive sob regime de ditadura. “As medidas são impostas unilateralmente. Não há discussão com a classe médica”, contou. Sobre as condições de trabalho, o cirurgião disse que a falta de material é recorrente. “Por diversas vezes tive que parar as cirurgias para providenciar um fio que estava faltando. A falta de insumo é constante. Decidi sair pois não aguentava mais fazer uma medicina de faz de conta”, contou.

 

Sugerido por Vânia Machado

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