Após tentativas frustradas nas últimas semanas de votar a Proposta de Emenda Constitucional 23, conhecida como a PEC dos Precatórios, o presidente da Câmara Arthur Lira (PP-AL) pretende colocar o texto em plenário novamente nesta quarta-feira (3).

A base governista já acionou o modo vale-tudo com todo tipo de pressão, chantagem e distribuição de verbas para conseguir votos dos deputados. Como se trata de uma PEC, o governo precisa de ao menos 308 votos a favor entre os 513 deputados.

A aprovação desta PEC tornou-se uma prioridade do governo Bolsonaro, pois visa permitir, entre outros objetivos, abrir espaço no Orçamento para financiar o Auxílio Brasil em substituição ao Bolsa Família. Uma clara tentativa de garantir recursos em ano eleitoral.

Segundo cálculos do próprio governo, a PEC permitiria o governo gastar R$ 91 bilhões adicionais em 2022, não só no novo programa, mas também nas chamadas “emendas de relator”.

Calote e desvio de dinheiro público

A PEC 23 estabelece o parcelamento dos chamados precatórios, que são dívidas da União que já tiveram o pagamento determinado por decisões da Justiça e que não cabem mais recurso, portanto, precisam ser pagas. Na prática, o texto prevê um calote em dívidas do governo.

Mas, além de adiar o pagamento dos precatórios, o texto também muda o cálculo do Teto de Gastos e inclui um mecanismo fraudulento, a chamada “securitização de créditos públicos”.

Parcelamento em 10 anos

A PEC estabelece valores que serão parcelados. O texto prevê que dívidas de até R$ 66 mil serão pagas à vista. A partir dai serão parceladas em até 10 anos, com alteração no cálculo de juros.

Dentre os credores de precatórios do governo, estão incluídas ações como revisões de aposentadorias e de salários de servidores e dívidas da União com estados, que demoraram anos para serem julgadas.

Esse calote pode prejudicar, por exemplo, professores da rede pública de estados e municípios. Isso porque cerca de R$ 16 bilhões são referentes a dívidas que a União tem como estados como Bahia, Ceará, Pernambuco e Amazonas em razão de um erro do governo no repasse de recursos do antigo Fundef (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério), que foi substituído pelo Fundeb (Fundo de Manutenção da Educação Básica).

Pela legislação, o governo federal deveria fazer uma complementação ao salário dos professores da rede pública por meio do Fundef. Alguns Estados e municípios processaram a União alegando que o cálculo usado para fazer os repasses era incorreto, ocasionando prejuízos. Os casos foram levados ao STF (Supremo Tribunal Federal) que vêm dando ganho de causa contra a União.

O texto da PEC, porém, prevê mecanismos que dificultam que esses entes recebam as dívidas, o que, em última instância, prejudica os professores.

Mais fraude através da Dívida Pública

Outro ponto que se destaca na PEC 23 é um “contrabando” incluído no texto durante a tramitação na Câmara que instituiu a “securitização de créditos públicos”, conforme denuncia a Auditoria Cidadã da Dívida.

Na prática, esse mecanismo vincula impostos pagos pela população a um esquema fraudulento de desvio de dinheiro público. A ACD vem denunciando há tempos esse golpe, já praticado de forma ilegal por estados como São Paulo, Minas Gerais e Piauí.

De forma resumida, a securitização é a venda do fluxo da arrecadação tributária a um altíssimo custo de remuneração. O Estado assume todo o risco e, ainda por cima, oferece as garantias mais robustas que podem existir: entrega, ao comprador dos recebíveis, o fluxo da arrecadação tributária, isto é, o dinheiro dos impostos que pagamos, esclarece em artigo a coordenadora da ACD Maria Lúcia Fatorelli.

“Trata-se de esquema altamente fraudulento e inconstitucional, pois vincula os impostos arrecadados do povo ao pagamento das debêntures emitidas, por fora dos controles orçamentários”, afirmou.

Segundo Fatorelli, o esquema compromete o fluxo de arrecadação de estados e municípios de forma definitiva, o que irá trazer graves consequências para a população e serviços públicos.

Não ao calote dos precatórios! Abaixo o Teto de Gastos!

Bolsonaro, Paulo Guedes e a tropa de choque do governo, liderada por Arthur Lira, defendem a PEC 23 e tentam justificar a medida para garantir recursos para bancar um novo programa social. Mas, na verdade, é apenas um plano eleitoreiro.

Para se ter ideia, o valor de R$ 400 proposto previsto para o Auxílio Brasil será temporário e valerá apenas até o final de 2022, ano da eleição presidencial. De 2023 em diante, a princípio, o valor da bolsa volta aos mesmos valores de hoje pagos pelo Bolsa Família, que é de uma média de R$ 190 por família.

O assessor da CSP-Conlutas Eduardo Zanata destaca ainda que a famigerada Emenda Constitucional 95, de fato, não é atacada.

“A PEC 23 manobra para desviar recursos dos precatórios para bancar o Auxilio Brasil, mas na prática não ataca a Emenda Constitucional 95, que instituiu o Teto de Gastos e congelou os investimentos públicos por 20 anos, e está na base da falta de recursos para serviços públicos essenciais, como Saúde e Educação. Isso porque o governo seguirá desviando recursos públicos para alimentar a Dívida Pública. Para garantir de fato investimentos públicos é preciso revogar, de fato, a EC 95 e o teto de gastos e suspender o pagamento da fraudulenta Dívida Pública que sufoca o país”, concluiu.

Fonte: CSP-Conlutas

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